Institucional
26.09.2024
26º Domingo do Tempo Comum
Oração: “Ó Deus, que mostrais vosso poder sobretudo no perdão e na misericórdia, derramai sempre em nós a vossa graça, para que, caminhando ao encontro das vossas promessas, alcancemos os bens que nos reservais”.
Primeira leitura: Nm 11,25-29
Tens ciúmes por mim?
Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta.
O texto que ouvimos retoma a questão da partilha do poder como serviço, em vista do bem do povo (Ex 18,13-27). Na caminhada pelo deserto, o povo queixava-se que no Egito tinham alimentos em abundância e no deserto, apenas o maná. Moisés, cansado de ouvir as reclamações, recorre a Deus. Não queria mais bancar a babá do povo, que não era seu, mas de Deus. Em resposta, na leitura de hoje Deus manda escolher 70 homens, líderes do povo, para ajudá-lo. Moisés convocou os 70 anciãos e colocou-os em volta da tenda de reunião. Deus retirou um pouco do espírito de Moisés e o deu aos anciãos. Então eles começaram a profetizar, mas logo pararam. Enquanto isso acontecia na tenda, dois homens estavam profetizando no acampamento, fora da tenda. Josué, servo e possível sucessor de Moisés, protestou porque eles não estiveram na tenda de reunião entre os 70. E Moisés respondeu: “Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta”.
O relato mostra que o espírito não é monopólio de Moisés, e sim um dom de Deus, parte do qual ele retira e dá aos anciãos. O espírito de Deus não pode ser monopolizado pelo poder humano, nem por Moisés, nem pelo grupo dos setenta. O espírito do Senhor é como o vento, sopra onde e quando quer. O espírito é um dom de Deus, um carisma partilhado como serviço para o bem de todo o povo. O dom de Deus é concedido não para dividir, mas para unir a comunidade. Paulo diz muito bem que os dons do Espírito unificam a Igreja num só corpo, pelo vínculo do amor (cf. 1Cor 12–13). Uma Igreja fechada em sua tenda apaga o espírito (Evangelho).
Salmo responsorial: Sl 18
A lei do Senhor Deus é perfeita, conforto para a alma.
Segunda leitura: Tg 5,1-6
Vossa riqueza está apodrecendo.
Tiago já havia criticado a discriminação entre ricos e pobres na comunidade cristã (2,1-5). Na leitura deste domingo, mais uma vez, tece duras críticas contra alguns cristãos ricos de seu tempo. Para esses anuncia o juízo de Deus iminente: De que serve o acúmulo de bens se a riqueza vai apodrecer, as roupas luxuosas serão carcomidas pelas traças, o ouro e a prata irão enferrujar? E denuncia a riqueza amontoada à custa de salários não pagos, a justiça que se vende e acaba condenando os pobres à morte. Enfim, um cristão rico, que se fecha em suas riquezas, não vive a proposta do reino de Deus, pregada por Jesus: “Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mt 6,24). E Lucas diz: “Como é difícil para os que têm riquezas entrar no reino de Deus” (Lc 18,24)! Entrar no reino de Deus, seguir a Jesus Cristo como discípulo, exige arrancar o “olho grande” para as riquezas e cego para com os pobres (evangelho). É um convite para olharmos os pobres com os olhos de Jesus. Bilhões de dólares viram cinza no jogo especulativo das bolsas. A riqueza não partilhada com os pobres vira pó e cinza.
Aclamação ao Evangelho: Vossa Palavra é verdade, orienta e dá vigor; na verdade santifica vosso povo, ó Senhor!
Evangelho: Mc 9,38-43.45.47-48
Quem não é contra nós é a nosso favor. Se tua mão te leva a pecar, corta-a!
Domingo passado, Jesus explicava aos discípulos que sua missão como Messias era a do Servo Sofredor. Não veio para ser servido e cortejado como rei, mas para servir aos mais pobres e dar a vida por todos. Enquanto isso, os discípulos discutiam quem deles seria o maior no reino, em Jerusalém. Jesus lhes ensinou que o maior deve tornar-se o menor, colocar-se a serviço dos pobres e necessitados. Deve acolher a todos, especialmente os pequenos e pobres, como Jesus fazia, ao abraçar uma criança.
Parece que os discípulos ainda não haviam entendido a mensagem de Jesus. Porque no evangelho de hoje, João avisa a Jesus que alguém, não pertencente ao grupo, estava expulsando demônios em seu nome. “Nós o proibimos”, informava João com certo orgulho. – Quem era João e por que protesta? João e seu irmão Tiago queriam os primeiros lugares ao lado de Jesus, no futuro reino em Jerusalém. Pedro, Tiago e João eram os mais achegados a Jesus. Estão com ele na Transfiguração, no jardim de Getsêmani e quando ressuscita a filha do chefe da sinagoga (Mc 5,35-43). João queria manter o controle de fazer o bem (milagres) como privilégio do grupo dos apóstolos. – Jesus responde: “Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim. Quem não é contra nós é a nosso favor”. Fazer milagres em nome de Jesus é fazer o bem aos necessitados, sem buscar vantagens pessoais. Jesus significa “Deus salva”, aquele que salva a vida das pessoas. Todas as pessoas que fazem o bem ao próximo, mesmo não cristão, agem como Jesus, mostrando a face bondosa de Deus Pai. Nos ditos seguintes, Jesus esclarece que até um copo d’água que um pagão dá ao um cristão terá sua recompensa. Por outro lado, quem escandaliza (leva a pecar) um cristão (“os pequeninos que creem”) – seja ele pagão ou cristão – não merece participar da Vida. Para entrar na Vida pelo caminho de Cristo é preciso cortar/podar tudo que nos leva a pecar e nos desvia do seguimento de Jesus (2ª leitura).
FREI LUDOVICO GARMUS, OFM