Institucional
07.02.2018
6º Domingo do Tempo Comum, ano B
Oração: “Ó Deus, que prometestes permanecer nos corações sinceros e retos, dai-nos, por vossa graça, viver de tal modo, que possais habitar em nós”.
Primeira leitura: Lv 13,1-2.44-46
O leproso deve ficar isolado e morar fora do acampamento.
O livro do Levítico reserva dois capítulos (Lv 13–14) para tratar da “lepra”, que nem sempre era a nossa conhecida hanseníase, mas incluía qualquer doença da pele. Hoje a hanseníase é tratável e curável. Nos tempos bíblicos a lepra era considerada punição divina por algum pecado. A pessoa suspeita de ter contraído a “lepra” era submetida e rigorosos exames feitos pelos sacerdotes. Uma vez “confirmada” a doença, a pessoa era segregada do convívio familiar e da comunidade. Se tivesse que entrar ou passar por um núcleo habitacional, devia avisar por meio de uma sineta ou gritar “impuro! Impuro!” No caso de a doença da pele ter sido curada, o paciente devia reapresentar-se aos sacerdotes, para ser novamente examinado. Comprovada a cura, o paciente devia oferecer sacrifícios rituais que nem sempre tinha condições de fazê-lo. Só então podia ser readmitido na família e na comunidade.
Nossos preconceitos, também hoje, excluem pessoas portadoras de hanseníase (lepra), de HIV ou que se definem por opções sexuais alternativas. Também não nos sentimos bem no meio dos pobres e os excluímos de nosso convívio. Podemos aprender do exemplo de Jesus (Evangelho) e de muitas pessoas que se dedicam a eles e aos enfermos, e que acolhem todas as pessoas em qualquer circunstância.
Salmo responsorial: Sl 31,1-2.5.11
Sois Senhor, para mim, alegria e refúgio.
Segunda leitura: 1Cor 10,31–11,1
Sede meus imitadores, como também eu o sou de Cristo.
A linda exortação que ouvimos conclui a resposta de Paulo às perguntas que os cristãos de Corinto lhe faziam: pode-se ou não participar de banquetes religiosos pagãos, que eram também festas civis (1Cor 8)? É permitido comer carnes de animais sacrificados aos ídolos e vendidas no mercado (1Cor 10,23-30)? Paulo estabelece dois princípios: como os ídolos não existem, o cristão é livre de comer ou não tal carne; mas nunca deve escandalizar um cristão que pensa diferente, ou têm “consciência fraca”. E estabelece um princípio geral: “Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus”. Deus não será glorificado, se, com minha liberdade, escandalizo meu irmão. Por fim, Paulo se apresenta como exemplo: em tudo o que faz procura não o próprio bem, mas o dos outros, para que todos sejam salvos.
Aclamação ao Evangelho
Um grande profeta surgiu, surgiu e entre nós se mostrou:
É Deus que seu povo visita, seu povo, meu Deus visitou!
Evangelho: Mc 1,40-45
A lepra desapareceu e o homem ficou curado.
Em Israel, quem sofria de “lepra” era duplamente discriminado: pela própria doença e pela exclusão da comunidade, prevista pela Lei (1ª leitura). Quando possível, os leprosos viviam em grupos (cf. Lc ) e eram alimentados pelos parentes ou por pessoas bondosas. Ninguém podia tocá-los, para não se tornar “impuro”. Ao aproximar-se de Jesus, o leproso transgride a Lei. Não suportava mais o isolamento e a exclusão. Queria ser reintegrado em sua família e na comunidade. Para isso, porém, devia comprovar sua cura diante dos sacerdotes, como exigia a Lei. Os sacerdotes não tinham o poder de curar a lepra; apenas verificavam se a pessoa estava ou não curada. No evangelho de hoje, o leproso manifesta uma profunda confiança em Jesus; reconhece que o Mestre tinha o poder de curá-lo. Por isso, de joelhos, pede a Jesus: “Se queres, tens o poder de curar-me”. Ao prostrar-se por terra, entrega-se confiante ao querer e ao poder misericordioso de Jesus.
Movido pela compaixão, Jesus toca o leproso com a mão (algo proibido) e transforma em realidade seu desejo: “Eu quero, fica curado!” Jesus mostra, assim, a misericórdia do Pai. Deus não quer ver ninguém excluído da convivência da família e da sociedade. A lepra era considerada punição por algum pecado. O pecado contra o irmão quebra o vínculo com Deus e o amor que nos une. Jesus proibiu o leproso de fazer propaganda de sua cura entre o povo. A proibição faz parte do “segredo messiânico” de Marcos, pois o Cristo vai se revelar aos poucos e plenamente, apenas pela cruz a ressurreição. Ordena, ao mesmo tempo, que o ex-leproso se apresente aos sacerdotes, conforme exigia a Lei, porque somente eles podiam oficialmente reconhecer a cura e readmiti-lo no seio da família e da comunidade. Mas o fato de o ex-leproso retornar à comunidade, curado, tornou a proibição de não divulgar a cura sem efeito. Todo mundo ficou sabendo da cura milagrosa. Jesus, porém, procura retirar-se para lugares desertos (Mc 1,35). Mesmo assim, o povo o procurava.
A palavra do leproso “se queres” e a resposta de Jesus “quero” são um convite a revermos algumas possíveis atitudes de discriminação e exclusão que praticamos, às vezes, sem perceber. Convida, também, a querer aquilo que Deus quer que façamos.
Frei Ludovico Garmus, OFM