Institucional

18.04.2025
"TUDO ESTÁ CONSUMADO": O SILÊNCIO DA CRUZ E A ESPERANÇA QUE FLORESCE
“Tudo está consumado.” É chegada a hora. A hora em que o mundo mergulha num silêncio, ele que parte da cruz que Cristo carregou e onde se entregou por amor.
Não é o silêncio comum da noite ou da ausência de som, mas um silêncio carregado de dor, de entrega e de mistério. É o silêncio de um Deus que cala, não por indiferença, mas por amor. Um silêncio que não é vazio, mas pleno de sentido, de sacrifício, de uma compaixão que se expressa não com palavras, mas com o próprio corpo oferecido que desvela o Amor de Deus pelo ser humano.
O silêncio se dá na cruz que se ergue nesse dia como escândalo e paradoxo. É o símbolo da maior violência e de indiferença que o mundo podia impor, mas é também o lugar da mais radical manifestação de amor. Ao contemplar a cruz, não é visível a glória. Não há triunfo aparente. Há sangue, abandono, injustiça. Mas naquele madeiro, onde a lógica humana enxerga o fracasso, Deus planta o fruto e a possibilidade da esperança. Porque a cruz não é o ponto final, e sim, é o início de uma nova criação que parte da resposta divina da entrega. Naquela cruz, Cristo não desceu, não se defendeu e não contra-atacou. Nela Ele permanece. Ele confia. Ele ama até o fim.
Com as dores do seu corpo físico na carne perfurada pelos ferros dos pregos em suas mãos e pés, pela dor do silêncio e do abandono “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste". Cristo sente, ainda preso naquele madeiro, a dor da rejeição da humanidade que não se compadece, mas continua a gritar “Crucifica-o, Crucifica-o”.
Com Jesus, a cruz não é um “peso morto” ou uma passividade, mas um lugar de fidelidade viva em que Ele leva consigo não apenas as suas dores, mas as dores do mundo inteiro. Cada lágrima humana, cada sofrimento calado, cada ferida invisível da humanidade encontra eco no corpo chagado do Crucificado. Ele carrega as dores da solidão, do abandono, da injustiça, da guerra, da fome, do medo, e no silêncio da cruz, as acolhe e transfigura.
Neste dia santo, a cruz nos ensina que não há morte que não possa ser vencida. Não há noite que não tenha aurora. Ainda que o sábado chegue e o túmulo se feche, já se sugere, no silêncio da cruz, a manhã da ressurreição. A Sexta-feira Santa nos convida a não desviar os olhos da cruz. A escutar seu silêncio sem medo. É nesse silêncio e nessa cruz que Deus nos revela que a esperança não morre. Ela apenas espera. E floresce. Porque no mais profundo silêncio da cruz, Deus semeia o impossível. E ali, onde o mundo diz: “acabou”, Ele sussurra: “está começando.”
Frei Lauro Matheus Costa dos Santos, OFM