Institucional

17.04.2025
EUCARISTIA: A AÇÃO DE GRAÇAS QUE VAI DA NUTRIÇÃO ATÉ A DIVINDADE
A quinta-feira santa revela para os cristãos a experiência de um Deus capaz de libertar o povo da opressão e conduzi-los ao caminho da libertação, experiência essa, resumida num jantar de despedida.
A história da Celebração da Missa vespertina na noite da Quinta-feira Santa quer recordar do amor ágape que experimentamos a partir da ceia, comunhão, Eucaristia, serviço, lava-pés, no entanto essa celebração nasce em um contexto de amargor e que gostaria de recordar: A vida e os seus Êxodos.
Êxodo mais do que um acontecimento pontual, trata-se de um paradigma, um parâmetro, um referencial sobre a revelação de um Deus que ouve o grito dos oprimidos e age na história para libertá-los.
Simplesmente recordando, fazendo memória: José, filho de Jacó é vendido pelos irmãos aos egípcios para ser escravizado, com isso se dá início ao novo ciclo da história do povo hebreu, dessa vez nas terras do Faraó. O Povo Hebreu cresce e se fortalece no meio dos egípcios, no entanto acendeu ao poder um rei que não conheceu José e impõe sobre o povo hebreu medidas do trabalho duro e da escravidão.
Aqui começa um processo de opressão, como vemos por aí, que não é Eucaristia, Amor Ágape e sim uma busca da autopreservação sem abrir espaço para a inclusão e nem para o convívio com a diversidade, justificando tais medidas de violência para a manutenção da ordem social, política e econômica.
Atualizando aos nossos dias, e fazendo a referência do testamento do Seráfico Pai Francisco de Assis, “O Senhor assim deu a mim, Frei Francisco, começar a fazer penitência: porque, como estava em pecados, parecia-me por demais amargo ver os leprosos”. É impossível não fazer paralelos, primeiro da história da tradição bíblica, segundo essa experiência de Francisco e terceiro com as nossas vidas e os seus Êxodos. Sabemos que a intenção das elites do poder é deixar a vida do povo amarga: O sofrimento é a garantia do poder e da riqueza; as lágrimas de uma mãe que com seus filhos não tem o que comer, não tem Eucaristia e enquanto as dispensas das casas dos ricos estão cheias; é amargo a vida com o transporte público lotado; é amargo ver moradias em condições precárias, é amargo o gosto da fome. É amargo viver sem perspectiva.
Em meio a isso tudo, a história da opressão não se passa sem a resistência dos oprimidos que sobrevivem com estratégias e lutam por emancipação, maior exemplo disso são as duas parteiras, Sefra e Fua que foram revolucionárias em sua sabedoria e ação. Se a racionalidade opressora produz morte, a racionalidade revolucionária abre caminhos. Em meio a esse contexto todo, não há palavras de ordem, programa definido, estratégia estabelecida, doutrina religiosa formulada. É somente dor. E Deus ouve, compreende, se compadece, sente, e se lembra da aliança que havia feito com o povo. Deus elege um povo não por outra razão, senão por sua condição de vulnerabilidade diante das injustiças que lhe são impostas.
Por isso, envia seu filho para anunciar um novo tempo, que se resume no Mandamento do Amor entregue aos seus, aos mais próximos, num jantar de despedida, na Páscoa, na passagem, na libertação: “Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco.” (Lc 22,15-16). Todo esse processo que vem do Êxodo e culmina em Jesus nos faz recuperar a necessidade de compreender a Páscoa, não com um cordeiro imolado mais o Real Cordeiro que se entregou por amor e se fez comunhão, alimento e que nos pede para que todas as vezes que assim o fizermos estaremos fazendo em sua memória como bem nos relembra, a narrativa da eucaristia presente na Primeira da Carta aos Coríntios 11, 23-26: “ Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha.”
Desse modo podemos começar a compreender que a noite desta quinta-feira santa nos recordar que no serviço, na humildade, Deus se faz alimento, eucaristia e falar de eucaristia é falar de comida, refeição, alimento e como é difícil falar desse aspecto de modo prático, no entanto em poucas palavras, podemos assim dizer:
1. Eucaristia significa, antes de tudo, ação de graças.
2. Ação de graça, por sua vez, significa uma singela gratidão.
3. Gratidão no contexto bíblico, vai significar a qualidade de reconhecer e valorizar as dádivas recebidas.
4. Receber é aceitar o que é oferecido, no caso hoje comida, comer.
5. Comida, por sua vez, é difícil especificar por haver poucos com muito e muitos com quase.
De uma coisa devemos saber que, se para um humorista sorrir é um ato de resistência, eu afirmo que comer também é um ato de resistência e isso tudo só é possível por duas dimensões: nutrição e divindade.
Pronto: acho que agora é possível dizer em poucas palavras sobre Páscoa, sobre Eucaristia:
Eucaristia é comida e comida é uma ação de graças que vai da nutrição até a divindade.
Frei Franklin Matheus da Costa, OFM