Institucional
24.02.2022
Quarta-feira Feira de Cinzas: A, B, C
Oração: “Concedei-nos, ó Deus todo-poderoso, iniciar com este dia de jejum o tempo de Quaresma, para que a penitência nos fortaleça no combate contra o espírito do mal”.
Primeira leitura: Jl 2,12-18
Rasgai o vosso coração e não as vossas vestes.
O texto lido na primeira leitura é do profeta Joel (séc. IV a.C.). O país sofreu uma terrível invasão de nuvens de gafanhotos que arrasaram as plantações, frustrando a colheita: “…o trigo está destruído, o vinho está em falta, o azeite se esgota” (Jl 1,10). A fome castiga homens e animais. A calamidade é vista como um castigo de Deus pelos pecados cometidos. O profeta fala do “dia do Senhor”, isto é, uma manifestação grandiosa e punitiva de Deus na história de Israel (cf. Am 5,18-20; Is 2,6-22). Os sacerdotes deviam convocar o povo para um solene jejum, incluindo anciãos, jovens e até crianças de peito, e clamar: “Perdoa, Senhor, a teu povo”. O jejum era expresso com o uso de vestes grosseiras de luto e acompanhado de choro e lamentações. Para expressar a dor era costume rasgar as vestes. O profeta, porém, alerta que não bastam as expressões externas de luto e conversão. É preciso “voltar” para Deus (arrepender-se) de todo o coração, rasgar o coração e não as vestes, “porque Deus é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo” (…) “Quem sabe ele se volte para vós e vos perdoe (…) De fato, Deus voltou a abençoar a terra e perdoou ao seu povo (v. 18). (2ª leitura). A Quaresma é um tempo favorável para “rasgar” nosso coração e voltar-se de coração aberto para Deus.
Salmo responsorial: Sl 50
Piedade, ó Senhor, tende piedade, pois pecamos contra vós.
Segunda leitura: 2Cor 5,20–6,2
Deixai-vos reconciliar com Deus. Eis agora o tempo favorável.
O texto lido prepara nossos corações para viver com intensidade o tempo da Quaresma. Destacam-se dois pensamentos. O primeiro é uma súplica que Paulo faz aos cristãos de Corinto: “Deixai-vos reconciliar com Deus”. Não é o homem que se reconcilia com Deus; é Deus que reconcilia o homem por meio de Cristo. Ele é o bom pastor que vai em busca da ovelha perdida ou desnorteada. O segundo pensamento diz: “É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação”. Deus está sempre disposto a nos perdoar, desde que o busquemos de todo o coração. A quaresma, porém, é este tempo favorável para voltarmos ao nosso Deus; é também um tempo de graça e reconciliação com o próximo. Tempo de abrir nosso coração, para que Deus nos purifique com seu perdão misericordioso (1ª leitura: “rasgar o coração”).
Aclamação ao Evangelho
Louvor e glória a ti, Senhor, Cristo, Palavra de Deus.
Evangelho: Mt 6,1-6.16-18
Teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa.
No Evangelho Jesus fala aos seus discípulos da oração, do jejum e da esmola, práticas normais dos judeus de seu tempo. Jesus ensina como não se deve executar tais práticas e como se deve fazê-las. Usa seis vezes a palavra “não”, para criticar o modo como os fariseus rezavam, jejuavam ou davam esmolas. Eles queriam aparecer diante dos outros como justos e perfeitos na observância da Lei (veja Lc 18,9-14: o fariseu e o publicano). Assim, não colocavam Deus no centro de suas ações, mas a si mesmo. Ao dar esmolas, devemos ser discretos: “que tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita”; procurar o silêncio do quarto para rezar; não mostrar um rosto triste quando jejua, mas lavar-se e usar perfumes. Porque Deus vê o coração e não as aparências.
As duras críticas aos fariseus devem ser entendidas no contexto em que Mateus escreve, pelo ano 80 d.C. Houve uma ruptura entre a sinagoga comandada pelos fariseus e as comunidades cristãs, expulsas da participação do culto judaico.
A esmola, o jejum e a oração fazem parte do dia a dia da vida cristã. A Igreja as recomenda especialmente para os tempos fortes da liturgia, como o Advento e a Quaresma. O jejum se exige para os católicos na quarta-feira das Cinzas e na Sexta-feira Santa, para quem tem entre os 15 e os 60 anos de idade. A esmola é um gesto de amor e solidariedade com o próximo, ligado à “Campanha da Fraternidade”. Tornou-se um belo exemplo de amor em tempos de calamidades, como na pandemia do Coronavírus (cf. Mt 25,31-40).
FREI LUDOVICO GARMUS, OFM